Tuesday, July 10, 2007

Uma questão de afirmação...

De certeza que todos vocês já tiveram uma daquelas tricas com um amigo(a), a mãe e o pai, o irmão (ui, o irmão!!), o colega da escola, o chefe, o motorista da carris, o pica (vulgo revisor do transporte público), namorada(o)... enfim, com um rol de pessoas que nos são ou foram próximas de alguma maneira num período qualquer da nossa vida.
Ora bem, as tricas são o espelho da nossa necessidade de afirmação.
Em míudo tive muitas! Até com a minha bicicleta tive que me afirmar! Verdade! O meu vizinho comprou uma bicicleta e o meu pai não. Ora o que é que eu fiz?? Nada! O meu vizinho é que certo dia chegou-se a mim e emprestou-me a sua bicicleta para eu dar uma voltinha e assim poder dizer: "Vês pai?? não preciso que me compres uma bicicleta para eu poder cair e esfolar-me todo... o Miguel faz isso por ti!" e pronto! Acabei por conseguir esfolar-me todo e ainda levei uma belas palmadas por ter rasgado os calções... eu percebi. Era a necessidade do meu pai se afirmar perante mim... os adultos tinham essa mania...

Depois, quando fui para a escola, a minha mãe comprou-me uma mochila que tinha uma bolsa no lado de fora... era bem fixe!! Sentia-me o cool lá do meu piso! Pena era que só havia um inquilino por andar... Bom, entretanto chega o primeiro dia de aulas e lá vou eu! Escadaria abaixo e de peito cheio por forma a poder dar os maiores berros de choro que a minha rua alguma vez tinha ouvido!! Era uma questão de afirmação... da minha mãe, claro! Por força tinha que ir para a escola... vá-se lá saber porquê... e para o fazer, pimba! Uma palmada no respectivo que é para ir mais depressa e não faltar à chamada... eu compreendi. A minha mãe tinha necessidade de se afirmar perante mim... os adultos tinham essa mania...

Em tempos tive uma namorada que tinha a mania que já era adulta... ora e porquê? Porque sempre que discutiamos ela própria o afirmava enquanto acenava vigorosamente o BI e fazia questão de me atirar à cara: "Ah e tal, deves pensar que sou algum dos teus colegas de escola... olha que os meus trisnetos têm mais respeito por mim que tu..." normalmente a seguir vinha uma bengalada no cachaço... pimba! eu compreendia... a minha namorada tinha necessidade de se afirmar perante mim... os adultos tinham essa mania...

Os tempos foram passando, apareceram as consolas, os telefones de 3 geração, a internet sem fios, a direcção assistida, os pda's, os cheirinhos para pôr no carro, o mp3, a exploração digital (tv cabo), o GPS, as garrafas de água com chucha, os bifudus activos, a descoberta do aloe vera... e mais umas coisas que tais... óbviamente que esta evolução atingiu também os nossos esquemas e estratagemas de afirmação social. São cada vez mais refinados e perturbadores...

Tenho reparado num que começa a ser bastante comum:

Nunca vos aconteceu ir a uma caixa de multibanco realizar uma operação qualquer e está um extracto bancário postrado em cima do teclado do ATM?? Isto, meus amigos, é a nova forma de afirmação que o comum português (aposto que são os homens que fazem isto... e de certeza que andam de camisa aberta e cabelos do peito ao vento) têm perante o próximo. Aquele extracto "esquecido" está lá a provocar-nos... a dizer-nos " Vá! Tira lá um extracto maior que eu a ver se és capaz!"... é terrível... tenho pesadelos constantes com isto... tremo de cada vez que me aproximo de uma máquina destas... sempre que isto me acontece calha-me sempre o extracto de algum ministro ou um administrador de alguma empresa pública... ainda assim tenho pena de quem apanhe um do Joe (o da OPA)... esse deve ser muito, muito violento...

2 comments:

Unknown said...

Este blog é muito à frente! Serôdio no seu melhor.
Os meus pais nunca se afirmaram perante mim...nunca tive um namorado que me desse uma «bengalada no cachaço»...não deve ser normal. Mas, a situação do multibanco... essa é recorrente!

Anonymous said...

OK a questão de afirmação já está e aquela cena da crise existencial???